Pelas tarefas que desempenhava na CSJD/QG/CTIG (Serviço de Justiça), fui-me apercebendo que muitas doenças, ferimentos e até mortes eram resultantes do abuso da ingestão de bebidas alcoólicas, mas quem, durante a sua comissão, não apanhou a sua "tosgazita"? Porém, quando estamos num TO e somos possuidores de uma arma de guerra, uns copitos com os camaradas e algum descontrolo podem resultar em tragédia. Este pequeno episódio que se passou comigo é bem elucidativo disso mesmo, e se o multiplicarmos por dezenas, ou até centenas (durante toda a guerra colonial, talvez milhares) e o transpusermos para uma qualquer companhia no mato, não será difícil adivinhar a quantidade de incidentes com finais trágicos que ocorreram durante aquela guerra. Numa das minhas várias seguranças nocturnas que fiz às instalações da PIDE/DGS em Bissau, junto ao bairro do "Pilão", comandando um pequeno grupo de seis ou sete homens, deu-se um episódio que me deixou bastante incomodado e "acagaçado". O pessoal que integrava estes pelotões pertencia à CCS/QG e apresentava-se à noite, para efectuar o "serviço", já bastante cansado das muitas “picadas” percorridas durante o dia entre gabinetes e, alguns com muitas paragens para reabastecimento no Bar. Por norma, estacionávamos numa pequena ruela, nas traseiras da DGS, que dava acesso ao Bairro do Cupilom e ali, junto a uma tabanca, o pessoal "ferrava o galho" com uma "pinta do caraças"! Eu nunca dormia e não era por medo ..., não senhor! Era pelo meu elevado sentido de responsabilidade e pela obrigação moral de zelar pelo merecido descanso daqueles bravos militares. Nessa noite, íamos talvez fazer o turno das 00h00 às 04h00 e tínhamos acabado de chegar ao "objectivo" quando entra na ruela um táxi conduzido por um negro e com um "pendura" negro também. De repente, um "fabiano" do pelotão manda parar o táxi, puxa a culatra a trás, e apontando a arma ao "pendura", indaga: - "Quem és tu, para onde vais!?" Oh valha-me Deus, “carago”, que é isto!? Pergunto-me a mim próprio, completamente apalermado. Passados uns segundos logo me apercebi que o "fabiano" estava com uma valente "tosga", daquelas chamadas de "caixão à cova". Ai meu Deus se o “gajo” dispara aquela merda! Com “pinças” e tentando manter a calma do "fabiano" (eu tremia todo e devia estar azul - ai s'aquilo dispara!), a muito custo, mas muito de levezinho, lá consegui retirar-lhe a arma e desarmá-la, apetecendo-me logo de seguida dar-lhe uma valente coronhada na "tola", mas lembrando-me de algumas "tosgas" próprias, lá pedi desculpas ao taxista e Cª e mandei-os seguir viagem. Pelo "telemóvel" contactei o Af.Milº de prevenção (um amigo dos tempos do QG de Lisboa) e, com receio de possíveis escutas, disse-lhe apenas que precisava da presença dele pois havia um pequeno problema. Apareceu passado pouco tempo de Unimog e com mais um pelotão, meio confuso por não perceber nada do que se estava a passar. Chamei-o à parte e lá lhe contei o que acontecera. Substituiu-se o "fabiano" que seguiu de Unimog para o Quartel e tudo o resto decorreu normalmente. Acordamos depois que não faríamos qualquer participação e o "fabiano" livrou-se duma valente "porrada". Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço". |
A gesta de seis irmãos que cumpriram Serviço Militar em África (Angola, Guiné e Moçambique).
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Abílio Magro
Guerra "Copofónica"
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