quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Dálio Magro
Cantigas do Capim

O Primeiro-Sargento da Companhia era muito miltarista e implicava com os cabelos compridos dos condutores quando estes iam a Marrupa para reabastecimento de material. Então, eu escrevia na tampa de uma ração de combate (não havia papel no meio do mato) uma declaração em que autorizava o condutor a usar os cabelos compridos durante o período que levaria a fazer o trajecto entre o mato e o Quartel e respectivo regresso.
A primeira coluna para o mato (Chiulezi) foi chefiada por mim, mas, para meu espanto, com a segunda coluna não seguiu qualquer oficial.
Os condutores queixavam-se que o Primeiro-Sargento tinha construído um jardim à entrada do aquartelamento que dificultava a manobra dos camiões.
Pelos motivos acima apontados o "vidrinhos" fez algumas quadras que o pessoal passava a vida a cantarolar.


O Primeiro-Sargento Bruno

Há injustiças que tanto puno
Já estamos fartos do Sargento Bruno
do Sargento Bruno

Que mal tão grande e derradeiro
Artilharia mandou um primeiro
mandou um primeiro

Já cheira mal, a merda é tanta
Sempre nos lixam, mas a malta canta
mas a malta canta

O artilheiro fez um jardim
Mas cá o Magro não o quis assim
não o quis assim

Oh artilheiro a ideia é sua
E o capitão pô-lo na rua
pô-lo na rua

Com o capitão ninguém se mete
E arrasou tudo com o D7
tudo com o D7

Eles bem se escondem lá no buraco
Mas o Jesuino já cá veio ao mato
Já cá veio ao mato

Dizem que o Bruno é muito vera
Mandem para o mato essa grande fera
essa grande fera

Se ele aqui vem, ai que grande carola
Pois os mauzões cá baixam a bola
Cá baixam a bola

O Laranjinha que grande rato
Foi para o conjunto para se safar do mato
para se safar do mato

Já me esquecia cá do xarola
Que no morteiro é um pintarola
É um pintarola

Versos feitos na picada entre o Candulo e o Xiulezi

Mandem os xicos para o mato
Já estou farto desta merda
Mandem os xicos para o mato
Já estou farto desta merda

Chegamos ao Xiulezi não trouxemos oficiais
Ficaram em Marrupa para mandarem vir mais
Chegamos ao Xiulezi não trouxemos oficiais
ficaram em Marrupa para mandarem vir mais

Mandem os xicos para o mato
Já estou farto desta merda
Mandem os xicos para o mato
Já estou farto desta merda

Vamos arranjar a pista para virem de avião
eles mandam muitas papaias mas não gostam da confusão
Vamos arranjar a pista para virem de avião
eles mandam muitas papaias mas não gostam da confusão

Mandem os xicos para o mato
Já estou farto desta merda
Mandem os xicos para o mato
já estou farto esta merda

O medo era mato do Candulo para cá
mas houve um dos valentes que preferiu ficar lá
O medo era mato do Candulo para cá
mas ouve um dos valentes que preferiu ficar lá

Mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda
mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda

Dos sorjas nem se fala
eles só estão preocupados com o braçal de sargento de dia
Dos sorjas nem se fala
eles só estão preocupados com o braçal de sargento de dia

Mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda
mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda

Para a guerra não querem ir
recusam-se a todo o momento
Assim também eu queria
ser segundo sargento

Para a guerra não querem ir
recusam-se a todo o momento
assim também eu queria ser segundo-sargento

Mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda
Mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda

Se um dia a sorte mudar
e a gente puder mandar vir
serão sempre eles a alinhar
e há-de ser até partir

Se um dia a sorte mudar
e a gente puder mandar vir
serão sempre eles a alinhar
e há–de ser até partir

Mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda
mandem os xicos para o mato
já estou farto desta merda

Estou farto deles
Estou farto deles da xicalhada
Só mandam vir e não fazem nada
E não fazem nada
E não Fazem nada

Vai para o mato xico lateiro
Por esse andar chegas a 1º
Chegas a primeiro
Chegas a primeiro

Estou farto deles da xicalhada
Eles no quartel e nós na picada
E nós na picada
E nós na picada

Só há trabalho e maus tratos
e na picada a fome é mato
A fome é mato
A fome é mato

O vagomestre que grande pinta
Está a cortar-se com a ração trinta
Com a ração trinta
Com a ração trinta

Ai que cheirinho a verde pinho
Só não cheiramos o nosso vinho
O nosso vinho
O nosso vinho

Não é só o vinho a nossa luta
Mas o lerpanço é também na fruta
É também na fruta
è também na fruta

Tanta miséria que devaneio
Ainda por cima não temos correio
Não temos correio
não temos correio

De tanta merda já não estranho
há quinze dias que não tomo banho
que não tomo banho
que não tomo banho

Tudo a ralhar com razão
Ainda por cima também não há pão
Também não há pão
Também não há pão

Não há pão come borracha
Pois nem sequer trouxeram bolacha
Trouxeram bolacha
Trouxeram bolacha

Que vida esta tão desgraçada
Se um homem fala leva uma porrada
Leva uma porrada
Leva uma porrada

De tanta dor ninguém contesta
Se vem os turras é o fim da esta
è o fim da festa
é o fim da festa







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