
Conheci na Guiné o Major Francisco Leal de Almeida em Junho/Julho de 1973 quando, com ele e outros militares, participei numa operação em Cacine como seu “secretário”, operação essa destinada a evitar o abandono das NT (nossas tropas) do quartel de Gadamael que se encontrava a ser constantemente flagelado por bombardeamentos do IN (inimigo – PAIGC).
Não convivi muito tempo com este oficial superior porque, além de eu ter sido substituído em Cacine passado pouco tempo (3/4 semanas), o Major Leal de Almeida fazia muitas incursões a Gadamael, conforme descrevo no post "Férias em Cacine". Do que sabia na altura acerca deste Major era apenas que tinha o curso de “comandos”, tinha sido Coordenador do Batalhão de Comandos da Guiné e não estava ali para me “chatear”, pelo que me fui apercebendo e por me parecer tratar-se de boa pessoa. Soube mais tarde, pelo meu irmão Álvaro [na Guiné também] e quando regressei a Bissau, que o Major L. Almeida era grande amigo do meu irmão Fernando, conforme refiro em nota de rodapé no post "O Sargento da Guarda". Ainda mais tarde, já na Metrópole e posta a nu a Operação Mar Verde – Invasão de Conacry por parte de tropas portuguesas, veio-se a saber que o Major Leal de Almeida foi o militar que mais resistência opôs a essa invasão planeada pelo Comandante Alpoim Calvão, tendo-se, inclusive, negado a participar na mesma. Numa carta que, em tempos, recebi do meu irmão Fernando, este refere-se à amizade que existia entre ele e o Major Leal de Almeida e ao seu carácter. Transcrevo a seguir alguns excertos dessa mesma carta: […] É verdade que resistiu, acompanhado por toda a sua Companhia de Comandos, à invasão de Conacry, capital da República da Guiné, em desacordo com o plano do Comandante Alpoim Calvão. Conheceram-se em Lamego quando o meu irmão Fernando por lá andou, no final do Curso de Promoção a Capitão e onde, um dia, levou a Lena, sua mulher, a almoçar na Messe dos Oficiais dos Comandos, tendo aí encontrado a Maria da Graça, ex-colega da Lena no colégio de Moncorvo e mulher do Major Leal de Almeida. Fizeram amizade em Lamego e, mais tarde, encontraram-se na Guiné. Ele Major, Coordenador do Batalhão de Comandos da Guiné e o meu irmão Fernando, Chefe dos Serviços de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia 447. O meu irmão Fernando tinha conseguido alugar casa em Bissau, o que, à época, era extremamente difícil de conseguir e, em Junho de 1970, a família (mulher e filho) juntou-se-lhe. O Major Leal de Almeida “vendo-o razoavelmente instalado e na companhia da família, tinha a ambição de ter também em Bissau a companhia da mulher e filhos” e foi ele [meu irmão] quem lhe resolveu o problema.
No Batalhão de Engenharia havia um alferes que “tinha conseguido alugar uma casa onde viveu durante vários meses com a sua jovem mulher. No fim da comissão ele ficou sozinho porque resolveram que a esposa regressaria ao Porto, cidade onde viviam”.
O meu irmão tentou “que o alferes cedesse a casa ao Major Leal de Almeida para que este pudesse chamar a família para junto de si”, mas o alferes não cedia a casa porque não queria dormir no quartel. “Dormir no Quartel, nem pensar …”, dizia ele. Acabou, o meu irmão, por desbloquear a situação propondo ao alferes que fosse viver com ele nos seus três últimos meses de comissão. Convidou-o a ir lá casa, mostrou-lhe as divisões e lá o convenceu, podendo, assim, a família do Major Leal de Almeida viajar até Bissau e lá se instalar. Como o Major Leal de Almeida passava muito tempo fora de Bissau, principalmente em Madina de Boé, o meu irmão e a mulher acompanhavam de perto a família do Major e o meu irmão até tratou de toda a papelada para que a mulher dele pudesse concorrer a professora primária, como a tinha aconselhado a fazer. Foi bem-sucedida no concurso e conseguiu colocação numa escola de Bissau. Mais tarde, permanecendo o Major mais tempo em Bissau, o meu irmão também lhe conseguiu colocação como professor de Educação Física na Escola Comercial e Industrial de Bissau. […] Ele era bom atleta e na sua juventude tinha sido campeão militar em Voleibol e Basquetebol. […] […] Em Lamego, era ele o responsável pela preparação física dos oficiais que estavam a ser preparados para as guerras de África. […] Depois do 25 de Abril, já com a patente de Tenente-Coronel é-lhe entregue o Comando do RALIS (Regimento de Artilharia de Lisboa), onde o “Fitipaldi das Chaimites”, o Capitão Diniz de Almeida, que rapidamente chega a Major, […] o coloca por diversas vezes em situações tais que levaram os seus superiores a julgarem-no mal, colocando-o no rol dos comunistas. Não era nada disso. Era tão comunista como eu. […] […] era um bom homem, generoso e grato […] Muito crédulo, acreditava nos seus subordinados […] […] Na minha ideia, no RALIS, o Dinis de Almeida usou e abusou da bondade e generosidade do Major Leal de Almeida que foi porventura enganado pelo "Fitipaldi das chaimites" diversas vezes.[…] […] Foi muito mal tratado pelos seus superiores hierárquicos e nunca passou de tenente-coronel. […] […] Foi sempre um homem que se mostrava muito grato para comigo. […] […] Em toda a parte por onde passava dizia que eu tinha sido um pai para ele: porque lhe tinha arranjado uma casa em Bissau, o que permitiu a ida da família para lá e também porque lhe arranjei, a ele próprio e a sua mulher, colocação no professorado. […] […] Na minha frente e sempre que tinha oportunidade, dizia às pessoas que nos acompanhavam: Na Guiné, o Pinho Valente foi para mim como um pai. […] […] Paz à sua alma pois há já alguns anos que não faz parte desta vida. […] Embora eu tenha convivido muito pouco com o, então Major e depois Tenente-Coronel Francisco Leal de Almeida e que mal o conheci, não queria deixar de lhe prestar a minha homenagem publicando aqui, em sua memória, este singelo post. - em Viseu (foto 1) - nas instalações do Inatel em V.N. de Cerveira (foto 2). Nota: Os fragmentos de texto a itálico foram retirados de um texto da autoria do meu irmão Fernando de Pinho Valente (Magro), ex-Cap. Milº Artª – Guiné – BEng 447 - 1970/1972 |
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