quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Rogério Magro
Fome A Quanto Obrigas!


Após o regresso de mais uma operação de quatro dias, regressamos ao quartel de Lumbala-Nova e, após termos ido ao Zambeze tomar banho e á zona da "lavandaria", visitamos os nossos amigos marinheiros da lancha de desembarque e aproveitamos para beber umas “Cucas” bem fresquiunhas. Como se aproximava a hora da janta, começamos a rebuscar as malditas latas de conservas da ração de combate e, então, eu sugeri aos meus camaradas Furriéis e ao Sarg.Pombal, o seguinte :
- E se fôssemos até á messe de sargentos aqui da Companhia e ficássemos a aguardar pelo fim do seu jantar? Acho que sempre deve sobrar alguma coisa e nós, às sobras, juntamos umas conservas e fazemos o nosso jantar.
- Boa ideia Magro, deve sempre sobrar algo, retorquiu o pessoal!
Como já sabíamos da hora habitual do jantar, lá fomos todos para a messe. Dissemos ao que íamos e o pessoal da casa não se manifestou em contrário. Recordo que o menu do dia era um arroz tipo argamassa acompanhado de umas rodelas de paio, mas para nós, que a fome era mais que muita, era um autêntico manjar dos deuses. Nós, os visitantes, aguardávamos todos de pé atrás da mesa redonda onde os Sargentos da companhia se “banqueteavam”. A páginas tantas, um Sargento levanta-se da mesa, e o Barros que estava mais próximo do local, abancou-se de imediato no lugar do Sargento e agarrou-se ao prato de arroz que nem um desalmado.
Estava o Barros a enfiar mais uma garfada, quando o Sargento regressa à mesa e, com grande espanto, vê o seu lugar ocupado e o seu prato de comida a ser devorado pelo Barros e exclamou:
- "Fosga-se" que isto está de tal maneira que um tipo já nem à casa de banho pode ir que “lerpa” logo o jantar!
Foi uma risada geral e o Barros muito acabrunhado só balbuciou:
- Ó meu Sargento eu pensei que já tinha acabado de jantar e antes que fosse tarde abanquei que estava cá com uma “galga”, peço-lhe imensa desculpa!
O Sargento compreendeu, pois sabia da nossa situação e lá acabou de comer o que o Barros ainda não tinha comido.

Esta situação já foi recordada por diversas vezes, aquando das nossos encontros nos almoços anuais.
No fim do repasto dos Sargentos da casa, lá rapamos o que sobrou, juntamos-lhe umas latas de atum e chouriço e lá conseguimos jantar os restos que sobraram que, diga-se de passagem, nos souberam tão bem que, aliado ao episódio do Barros, ficou gravado para memória futura.
Quando a fome aperta até os restos de comida dos outros dão num excelente manjar! È verdade que rapamos os pratos dos outros camaradas para matar a fome, foi assim no Lumbala junto ao rio Zambeze nos inícios de 1968.





Sem comentários:

Enviar um comentário