segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Abílio Magro
A Partida


Julgo não estar muito longe da verdade se disser que meus pais foram, talvez, dos que mais contribuíram com “carne para canhão” para a guerra colonial. Efectivamente, tendo a minha mãe dado à luz 11 criaturas (8 rapazes, dos quais 2 morreram em criança e 3 raparigas) , os 6 mancebos sobrevivos vieram a cumprir serviço militar nos três TO’s (Angola, Guiné e Moçambique).

Em 1971 a situação da Companhia Magro era a seguinte:

Fernando de Pinho Valente (Magro), nascido a 10/05/1936 - Em serviço na Guiné como Cap. Milº de Artilharia, tendo cumprido já, entre 1958 e 1960, o serviço militar obrigatório como oficial miliciano;

Rogério Alberto Valente Magro, nascido a 09/03/1944 - Na disponibilidade após ter cumprido serviço em Angola como Fur Milº Atirador de Infantaria, entre 1967 e 1969;

Dálio Valente Magro, nascido a 10/12/46 - Em serviço em Moçambique, como Alf. Milº de Engenharia – C.Engª 2686;

Carlos Alberto Valente Lamares Magro, nascido a 17/07/48 - Em serviço em Angola, como Cabo Especialista da FAP;

Álvaro Valente Lamares Magro, nascido a 17/05/50 - em serviço no HMR nº1 – Porto, como 1º Cabo Enfermeiro e já com guia de marcha para a Guiné, para onde “marchou” em Dezembro desse ano;
Abílio Valente Lamares Magro, nascido a 06/11/51 - a apresentar-se a Inspecção Militar.

Eu, o único que fazia jus ao apelido que ostentava, pois media 1,73m e tinha 53 kg de peso e, consciente dos contributos que os meus irmãos deram, estavam a dar e mais um já se perfilava para dar ao esforço de guerra, apresentei-me à Junta Militar de Inspecção com a confiança de quem podia afirmar: - “Para esse peditório os meus irmãos já deram!”

Quando, com algum estrondo, me plantaram na papelada o carimbo que rezava: “Apurado para todo o serviço”, confesso que me perpassaram pela mente alguns impropérios que me dispenso de aqui relatar, limitando-me aos mais suaves e cujos destinatários eram os meus outros cinco irmãos, como por ex.: “aqueles 'gandas' camelos andam lá no meio do mato armados em heróis do capim e estes 'bacanos' julgam que é tudo da mesma cepa e 'tungas, bora' lá fazer companhia aos maninhos!”.

Muitas vezes ouvira falar em “carne para canhão”, mas em “ossos para canhão” é que nunca tal houvera visto!”

Enfim, lá me apresentei em Abril de 1972 no RI 5 – Caldas da Rainha para frequentar o 1º ciclo do CSM, tendo depois frequentado o 2º ciclo no RAL 4 – Leiria, seguindo depois, já como 1º Cabo Milº para o QG/RML onde, passados 4 meses lá me passaram o “voucher” para viajar até à Guiné.





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